top of page
  • Foto do escritorPsicóloga Cláudia Yaísa

Vamos falar sobre o ciúme?


Algumas pessoas se sentem envergonhadas ao assumirem que sentem ciúme, porém, esse sentimento está presente em menor ou maior grau nas diversas relações amorosas e todos estamos sujeitos a sentir ciúme em alguma situação. Mas, afinal, o que desperta o ciúme?


Efetivamente ele se manifesta pela possibilidade de o relacionamento ser ameaçado por um terceiro, sendo que a ameaça pode ser tanto real quanto imaginária.

O ciúme “se configura como um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos de alguma ameaça à estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo valorizado” (Almeida, 2007, p.17). Ou seja, o ciumento se encontra em um relacionamento amoroso que de alguma forma é estimado e com aspectos importantes para si e por isso tende a protegê-lo. O ciúme normal por si só não é um problema, pois revela que se possui afeição pela pessoa e que se deseja preservar a relação.

É comum no imaginário social a compreensão de que o ciúme, seja em qual nível for, é sempre sinônimo de amor, cuidado, zelo, proteção e preocupação com o amado. Essa concepção remete à utopia do amor romântico, difundido no final século XVIII e início do século XIX, que estabelece a plenitude e completude do amor ideal. Culturalmente essa ideia ainda se mantém fortemente presente nas relações atuais e a pessoa que é objeto do ciúme, frequentemente se sente lisonjeada e valorizada por ter alguém que demonstre esse afeto.

Porém, nem sempre o ciúme é manifestado de forma ponderada nos relacionamentos. Quando envolve a submissão do parceiro em uma relação abusiva, possessiva ou violenta, fala-se de ciúme patológico, o qual pode acarretar prejuízos ao par ciumento e objeto do ciúme.

O ciúme patológico acompanha o ciumento nas diversas situações, mesmo sem evidências reais a pessoa se comporta de forma hostil, violenta, ameaça o outro e se coloca em um exaustivo processo de incerteza, insegurança e desconfiança que pode gerar estresse e ansiedade. Há casos em que a rotina é alterada na procura constante por indícios e provas. Nesses casos, é difícil para o ciumento reconhecer que está errado, porque suspeita veementemente que o relacionamento está em risco pela interrupção de um terceiro.

A pessoa que vivencia esse tipo de ciúme possui dificuldade em aceitar que não é o único para o ser amado, busca a autossatisfação e recusa ser frustrado. Essa característica também remete ao ciúme perverso, no caso em que o amado é colocado na função de objeto que deve atender às demandas do ciumento, desconsiderando a própria subjetividade do outro (Arreguy & Garcia, 2012).

Além disso, o ciumento em excesso apresenta a falsa concepção de que ao controlar o outro estará protegendo o amor entre os mesmos e evitando possíveis ameaças. Porém, o que essa dinâmica psíquica esconde é a sua insegurança, o medo de perder o objeto de amor, o abalo em sua onipotência e o contato com a falta interior existente em cada um de nós. Importante ressaltar que um relacionamento permeado por esse nível de ciúme tende a gerar sofrimento tanto para o objeto do amor, quanto para o ciumento que não consegue administrar seus impulsos.

Não se pode ser conivente com uma relação pouco saudável que coloca em risco o bem-estar físico e emocional das pessoas. É preciso reconhecer a necessidade de ajuda e buscar um acompanhamento profissional que possa auxiliar o casal ou a pessoa ciumenta a compreender o seu comportamento e as dificuldades que possui.

Por fim, destaco que o ciúme, em todas as suas instâncias, aponta para a incompletude do ser humano, para a possibilidade de não sermos os melhores e únicos. Quando se atinge essa compreensão, a reflexão sobre o ciúme normal pode auxiliar no processo de desenvolvimento pessoal, de amadurecimento, pois nos coloca em contato com a realidade e os limites existentes em nossa condição humana.

Bibliografia consultada Almeida, T. de. (2007). O ciúme e suas conseqüências para os relacionamentos amorosos. Curitiba, PR: Certa. Arreguy, M. E, & Garcia, C. A. (2012). A ausência de ciúme como um ideal cultural: reflexões clínicas sobre a fragilidade subjetiva frente ao amor na atualidade. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 22(2), 755-778. Silva, C. Y. (2014). O ciúme nas relações amorosas adolescentes. In Almeida, T. de (Org.). Relacionamentos amorosos: o antes, o durante... e o depois (p.133-157), vol. 2. São Paulo, SP: PoloBooks.



Psicóloga Cláudia Yaísa

CRP 06/111120


Facebook: Psico.Life

Instagram: psico.life

Comments


bottom of page