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Foto do escritorPsicóloga Cláudia Yaísa

Sobre a adolescência


Na adolescência acontecem as conhecidas mudanças biológicas com reflexos visíveis no corpo do indivíduo. Nos meninos crescimento dos pelos, engrossamento da voz, aumento da estatura, espinhas, espermarca; e nas meninas crescimento dos seios, aumento do quadril, aumento de pelos, de estatura, menarca. Porém, modificações psicológicas e sociais também se fazem presentes nesse período. Erikson (1971, pp.242) define a adolescência enquanto "uma etapa psicossocial entre a infância e a idade adulta, entre a moral aprendida pela criança e a ética a ser desenvolvida no adulto".


Nessa fase são observáveis grupinhos de adolescentes partilhando alguma característica em comum, por vezes isso acontece devido à necessidade de uma super identificação temporária de uns com os outros, até a evidente perda de identidade em função dos heróis dos grupos, justamente pela identidade do adolescente estar em processo de estruturação; "estão sempre dispostos a instituir ídolos e ideais duradouros como guardiães de uma identidade final". (Erikson, 1971, pp. 240).


Outro aspecto característico dessa etapa é a aproximação com os grupos de seu interesse e ao mesmo tempo a exclusão daqueles considerados destoantes pelo motivo que seja (raça, classe social, gosto, vestuário, religião, etc.). Em certos casos essa situação de exclusão, apesar de não dever ser incentivada, pode mostrar-se como uma defesa que ataca o conflito interno do adolescente com relação a seu sentimento de identidade ainda não totalmente formado. Dessa forma, verifica-se nos grupinhos de adolescentes a proteção e encobertamento entre si, além dos estereótipos dos seus ideais e dos que são inimigos.


O próprio amor adolescente é um caminho delineado para se alcançar uma identidade própria por meio da "projeção de uma imagem difusa da própria pessoa numa outra, vendo-a assim refletida e gradualmente aclarada" (Erikson, 1972, pp. 133). Desse modo, pode-se compreender o motivo que leva muitos namoros adolescentes se limitarem à conversação e diálogo, como em uma busca na outra pessoa por aspectos particulares, próprios do indivíduo, daquilo que o define.


Nessa busca por identificações, observa-se o adolescente obtendo experiências provindas de outras pessoas, construindo ligações com aqueles que não o abandonará nesse processo de constituição da identidade. O adolescente não se conforma com o papel preestabelecido a si pelos adultos, ao mesmo tempo em que não sabe no que se tornará e o que esperar da vida, mas quer trilhar seu próprio caminho.


A confusão de identidade própria da adolescência, quando referida a um dilema de cunho sexual, étnico ou aliada a uma desesperança do indivíduo frente a não conseguir definir-se, pode suscitar episódios com características delinquentes. Sentindo-se incapaz de assumir os papéis sociais impostos, não é raro o jovem que se ausenta de uma ou outra forma, deixa a escola, passa a noite fora de casa, abandona o emprego, recolhe-se em si mesmo de forma a se distanciar dos outros. Observa-se que tal adolescente pode ficar fadado à estigmatização de parte da sociedade, caso esteja envolto por juízos sociais que desconheçam ou desprezem as condições específicas e dinâmicas dessa etapa do desenvolvimento.


Nesse sentido, pode ocorrer do adolescente se identificar com um grupo em que um representante se coloca como provocador da sociedade, de forma que o próprio adolescente não aprovaria tal atitude em si, mas se identifica com o desvio de conduta do outro buscando se auto afirmar. Tais experiências adolescentes giram em torno da inconstância dessa etapa da vida e principalmente pela ameaça sentida pelos jovens quanto à perda da própria identidade, a qual está sendo construída.


Em decorrência disso, Winnicott (1989) afirma que o adolescente saudável é imaturo e irresponsável, pois está em processo de estruturação e afirmação de si. "A imaturidade é uma parte preciosa da adolescência. Ela contém as características mais fascinantes do pensamento criativo, sentimentos novos e desconhecidos, idéias para um modo de vida diferente" (pp. 126). Mas a imaturidade não está presente todo o tempo, com o passar dos anos e a proximidade da fase adulta, espera-se que se alcance a maturidade tão almejada e cobrada pelos adultos, sem atropelos, sem pular etapas, pois ao contrário desembocaria em adolescentes com falsa maturidade.


Acima de tudo não se pode esquecer que a etapa da adolescência pode ser um período complicado e de constantes mudanças para o indivíduo, sendo em certos casos vivenciada com angústia e ansiedade. Precisa-se deixar o corpo, os pais e a vida infantil para trás, elaborar esse luto e se deparar com o surgimento de um corpo adulto, com responsabilidades, dúvidas e incertezas que antes não faziam parte da vida do adolescente.


Por esse motivo, os adultos precisam conhecer o que se passa na vida desses jovens, acompanhá-los em seu desenvolvimento, cobrando responsabilidades, mas também permitindo que avancem rumo à suas próprias escolhas.


REFERÊNCIAS: Erikson, E. H. (1971). Oito Idades do Homem. In Infância e Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar. Erikson, E. H. (1972). O Ciclo Vital: Epigênese da Identidade. In Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro: Zahar.


Psicóloga Cláudia Yaísa

CRP 06/111120 


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